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sexta-feira, 23 de março de 2012

INSUBORDINAÇÃO x AUTORITARISMO


Insubordinação não é característica dos militares, muito pelo contrário. Mas, a partir do momento em que se evidencia o desrespeito público pelos órgãos militares, a humilhação visivelmente proposital, o que poderia ser uma inaceitável insubordinação se torna uma elogiável reação em defesa de sua dignidade.

A presidente Dilma Rousseff proibiu comemorações no dia 31 de março, mas os militares anteciparam a festa para o dia 29 e distribuíram convite que exige traje esporte fino; é mais uma crise que a presidente tem para administrar (17 de Março de 2012) - de acordo com opinião pessoal - que pode estar enganada, mas continuará, errada ou não - o golpe de 64 não deveria ser visto como um marco político, pois se trata de mais uma ocorrência na história dos militares.

Se não bastasse a rebelião da base aliada no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff agora tem mais um abacaxi para descascar. Desta vez, entre os militares, que já vinham dando sinais de insubordinação assinando um manifesto contra a Comissão da Verdade. Desta vez, o que os militares preparam já pode ser considerado provocação. Dilma havia proibido comemorações, entre os representas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em relação ao aniversário do golpe de 31 de março de 1964, que os militares chamam de “Revolução”. Pois o Clube Militar antecipou a festa para o dia 29, daqui a 12 dias, e começou a distribuir os convites para a comemoração, que exige traje esporte fino.
A informação foi publicada neste sábado na coluna Panorama Político, assinada pelo jornalista Ilimar Franco, no jornal O Globo. Desde a demissão de Nelson Jobim, que praticamente pediu para sair, com comentários agressivos em relação a Dilma e algumas de suas ministras, o governo vem administrando focos de crise entre os militares, que ainda não engoliram completamente a escolha de Celso Amorim. Formado nos quadros mais à esquerda do Itamaraty, Amorim imaginava que conquistaria a confiança dos militares, renovando a compra de equipamentos – por isso mesmo, anunciou a retomada da compra dos caças Rafale, da França.
No entanto, não conseguiu conter a insatisfação dos militares da reserva, que prepararam um manifesto contra a Comissão da Verdade e recolheram mais de 
2000 assinaturas. Os militares também demonstram preocupação com a tentativa de alguns promotores de rever a Lei de Anistia. Nesta semana, houve a tentativa, frustrada, de reabrir o julgamento de Sebastião Curió, que foi responsável pelo massacre dos guerrilheiros do Araguaia.

Agora, uma festa no Clube Militar, em comemoração aos 48 anos do golpe militar que foi combatido pela jovem guerrilheira Dilma Rousseff, hoje presidente da República, tem potencial explosivo. 
(General Augusto Heleno Pereira).

quinta-feira, 8 de março de 2012

Los borrachos


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08/03/2012 às 00:00:00
Em plena Guerra das Malvinas, perguntaram ao escritor Jorge Luis Borges o que ele achava do conflito entre argentinos e ingleses. Com fina ironia, Borges propôs uma solução generosa: "Essa disputa precisa ser resolvida com diplomacia. Argentina e Inglaterra desistem da posse e entregam as ilhas para a Bolívia, que tanto precisa de um pedaço de mar".
O argentino Jorge Luis Borges era cego e por isso mesmo tinha visão melhor da escuridão na América Latina. Outro que tinha uma privilegiada visão do continente era o Barão do Rio Branco, que teria trocado o território do Estado do Acre, que pertenceu à Bolívia e ao Peru até 1913, por um cavalo. Ocupado por seringueiros no final do século 19, na verdade o Acre acabou sendo comprado pelo Brasil, em 1903, por dois milhões de libras esterlinas, pagos aos governos boliviano e peruano, além do pagamento de uma indenização de 110 mil libras esterlinas ao arrendatário da área, The Bolivian Syndicate.
 Segundo o presidente boliviano Evo Morales, cujo maior sonho é estatizar o fluido de isqueiro para acender o charuto de Fidel Castro, o negócio foi outro. Como a diplomacia boliviana aprendeu a se movimentar com o cavalo de Simon Bolívar, com certeza trata-se de um clamoroso erro histórico. Assim sendo, o Barão ofereceu um cavalo e entregou um burro.
 A versão de Morales de que o Acre teria sido trocado por um cavalo lembra outra história mal contada: em 1623, a Holanda teria comprado a Ilha de Manhattan dos índios moicanos pela bagatela de 24 dólares. Ou seja, calculando-se que naquela época um cavalo custava bem menos que um dólar, com 24 dólares se podia comprar a Bolívia com o Acre anexo. Não foi bem assim. Para proteger os colonos dos massacres, os moicanos não aceitavam moedas. Receberam em quinquilharias no valor de 60 guilders (moeda holandesa), que depois a lenda transformou em 24 dólares.
Na Guerra das Malvinas, o primeiro disparo foi dado por um general argentino borracho. O que prova que na história das desgraças na América Latina sempre tem um pinguço no meio. No Brasil o golpe de 64 começou depois de uma das bebedeiras de Jânio Quadros. Segundo garantem os melhores historiadores, José Manuel Pando Solares, que presidiu a Bolívia entre 1889 e 1904, vivia bêbado e, num daqueles porres, trocou o Acre por um cavalo de raça que levou para sua própria fazenda.
Relembrando Jorge Luis Borges, essa disputa pelas Ilhas Malvinas precisa ser resolvida com diplomacia: Argentina e Inglaterra desistem da posse, o Brasil devolve o cavalo à Bolívia e não se fala mais nisso.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Senadores relembram papel do Barão do Rio Branco na definição das fronteiras do país

Um dos estadistas mais reverenciados da história nacional, o Barão do Rio Branco recebeu homenagem em Plenário, nesta segunda-feira (5), por ocasião dos cem anos de seu falecimento. Na sessão, o presidente da Casa, José Sarney, disse que o país deve cultivar a justa vaidade de possuir a figura de Rio Branco entre seus grandes heróis, a seu ver o maior no século 20, em razão de suas ações no campo diplomático para consolidar pacificamente as fronteiras do país.
– Herói não é somente aquele que vence batalhas com espada e sangue. Rio Branco venceu todas as batalhas, conquistando territórios para o Brasil, criando consciência de paz, de negociação e de construção da nossa grande pátria – destacou.
Sarney recordou que Rio Branco aproveitou o longo período em que esteve à frente do consulado brasileiro em Liverpool, na Inglaterra, para estudar e pesquisar em bibliotecas europeias. Assim, reuniu conhecimentos que depois seriam de grande utilidade na defesa do país nas questões de fronteira.
– Ele voltava da Europa e dizia que as guerras e as divergências entre as nações começavam na linha de fronteira – destacou Sarney.
Um dos pontos destacados por Sarney foi a atuação de Rio Branco na questão do Amapá, arbitrada por um conselho suíço depois de enfrentamentos sangrentos entre forças francesas baseadas na Guiana e habitantes que tinham “o coração de ser brasileiro”. Defendida com “ironia fina”, a estratégia envolveu o uso de mapas apresentados pela própria defesa da França para provar que toda a Guiana Francesa, ou pelo menos grande parte dela, seria território brasileiro.
Gratidão

O senador Jorge Viana (PT-AC), propositor da sessão, afirmou que Rio Branco sempre se portou com a consciência do papel de liderança que o futuro reservaria ao país, tanto na América Latina como no cenário internacional mais amplo, fato que considerou evidente na atualidade.
Jorge Viana disse que se sentiu no dever de sugerir a homenagem pelo sentimento de gratidão que ele e todos os acrianos nutrem em relação ao homem que se empenhou e encontrou os meios para resolver a questão territorial do atual estado do Acre quando assumiu o Ministério das Relações Exteriores, no governo Rodrigues Alves.
A área do estado pertencia à Bolívia e havia começado a ser ocupada por seringueiros brasileiros em 1880, na época da expansão da economia da extração da borracha. No entanto, assinalou o senador, esses brasileiros viviam dentro de um cenário de guerra, agravada pela cobiça do capital internacional pela área. Se efetivada a demarcação de fronteira estabelecida em acordos anteriores, milhares de brasileiros seriam abandonados à própria sorte em território estrangeiro, observou Jorge Viana.
– Tenho a firme convicção de que temos a obrigação de, em todas as ocasiões possíveis, promover e prestar tributo à memória e à obra do Barão do Rio Branco - concluiu.
Assim como Viana, seu colega da bancada do Acre Anibal Diniz (PT) reconheceu o papel decisivo de Rio Branco naquela questão, para ambos a mais complexa já enfrentada pelo país em relação a fronteiras. Diferentemente dos demais casos, disseram os representantes do Acre, esse foi o único em que houve expansão territorial e não um mero reconhecimento de direitos de domínio. A solução envolveu troca de territórios e pagamento de compensação financeira à Bolívia.

Ensinamentos
O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), Fernando Collor (PTB-AL), e antes dele também Sarney, outro ex-ocupante da Presidência da República, destacou os ensinamentos deixados por Rio Branco no trato das questões de Estado pela via diplomática. Collor ressaltou ainda o papel do Barão na própria organização do Itamaraty, com processo de seleção, qualificação e distribuição de postos de forma profissional, em processos apoiados na disciplina, meritocracia e respeito à hierarquia.
– Se hoje a excelência dessa instituição é reconhecida e admirada internacionalmente, devemos, em especial, à visão e à profecia do seu mais expressivo representante e sua capacidade de definir e implantar os princípios basilares da diplomacia brasileira – disse Collor.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) destacou que Rio Branco foi um devotado defensor da União das Américas. De acordo com a senadora, o Barão foi quem preparou o terreno para uma aproximação mais estreita com as repúblicas latino-americanas, além de ter acentuado a tradição de amizade e cooperação com os Estados Unidos. Ela disse que sua figura deve inspirar o Brasil a aproveitar o bom momento do país no exterior e repensar a política externa, assumindo papel de maior destaque na agenda mundial.
De acordo com João Capiberibe (PSB-AP), em tempos de descrédito nos homens públicos, homenagear Barão do Rio Branco em seu centenário de falecimento serve de “alento para mulheres e homens de bem do Brasil”. Para ele, mais do que ressaltar a importância de Rio Branco para o estado que tem a honra de representar, o mais importante era salientar sua capacidade de antecipação, por ter compreendido que o jovem país de sua época precisava resolver suas questões de fronteira ainda no século passado. O senador comentou que hoje esses conflitos dificilmente se resolveriam apenas pela diplomacia.
A sessão contou com a participação do embaixador Georges Lamaziére, diretor do Instituto Rio Branco, que representou o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota; do embaixador Gilberto Vergne Saboia, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag); e do ex-deputado Marcos Afonso, representante do governador do Acre, Tião Viana. Estiveram ainda presentes diplomatas brasileiros e estrangeiros alunos do Instituto Rio Branco.        05/03/2012 - 17h03 - Plenário