Um dos estadistas mais reverenciados da história nacional, o Barão do Rio Branco recebeu homenagem em Plenário, nesta segunda-feira (5), por ocasião dos cem anos de seu falecimento. Na sessão, o presidente da Casa, José Sarney, disse que o país deve cultivar a justa vaidade de possuir a figura de Rio Branco entre seus grandes heróis, a seu ver o maior no século 20, em razão de suas ações no campo diplomático para consolidar pacificamente as fronteiras do país.
– Herói não é somente aquele que vence batalhas com espada e sangue. Rio Branco venceu todas as batalhas, conquistando territórios para o Brasil, criando consciência de paz, de negociação e de construção da nossa grande pátria – destacou.
Sarney recordou que Rio Branco aproveitou o longo período em que esteve à frente do consulado brasileiro em Liverpool, na Inglaterra, para estudar e pesquisar em bibliotecas europeias. Assim, reuniu conhecimentos que depois seriam de grande utilidade na defesa do país nas questões de fronteira.
– Ele voltava da Europa e dizia que as guerras e as divergências entre as nações começavam na linha de fronteira – destacou Sarney.
Um dos pontos destacados por Sarney foi a atuação de Rio Branco na questão do Amapá, arbitrada por um conselho suíço depois de enfrentamentos sangrentos entre forças francesas baseadas na Guiana e habitantes que tinham “o coração de ser brasileiro”. Defendida com “ironia fina”, a estratégia envolveu o uso de mapas apresentados pela própria defesa da França para provar que toda a Guiana Francesa, ou pelo menos grande parte dela, seria território brasileiro.
Gratidão
O senador Jorge Viana (PT-AC), propositor da sessão, afirmou que Rio Branco sempre se portou com a consciência do papel de liderança que o futuro reservaria ao país, tanto na América Latina como no cenário internacional mais amplo, fato que considerou evidente na atualidade.
Jorge Viana disse que se sentiu no dever de sugerir a homenagem pelo sentimento de gratidão que ele e todos os acrianos nutrem em relação ao homem que se empenhou e encontrou os meios para resolver a questão territorial do atual estado do Acre quando assumiu o Ministério das Relações Exteriores, no governo Rodrigues Alves.
A área do estado pertencia à Bolívia e havia começado a ser ocupada por seringueiros brasileiros em 1880, na época da expansão da economia da extração da borracha. No entanto, assinalou o senador, esses brasileiros viviam dentro de um cenário de guerra, agravada pela cobiça do capital internacional pela área. Se efetivada a demarcação de fronteira estabelecida em acordos anteriores, milhares de brasileiros seriam abandonados à própria sorte em território estrangeiro, observou Jorge Viana.
– Tenho a firme convicção de que temos a obrigação de, em todas as ocasiões possíveis, promover e prestar tributo à memória e à obra do Barão do Rio Branco - concluiu.
Assim como Viana, seu colega da bancada do Acre Anibal Diniz (PT) reconheceu o papel decisivo de Rio Branco naquela questão, para ambos a mais complexa já enfrentada pelo país em relação a fronteiras. Diferentemente dos demais casos, disseram os representantes do Acre, esse foi o único em que houve expansão territorial e não um mero reconhecimento de direitos de domínio. A solução envolveu troca de territórios e pagamento de compensação financeira à Bolívia.
Ensinamentos
O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), Fernando Collor (PTB-AL), e antes dele também Sarney, outro ex-ocupante da Presidência da República, destacou os ensinamentos deixados por Rio Branco no trato das questões de Estado pela via diplomática. Collor ressaltou ainda o papel do Barão na própria organização do Itamaraty, com processo de seleção, qualificação e distribuição de postos de forma profissional, em processos apoiados na disciplina, meritocracia e respeito à hierarquia.
– Se hoje a excelência dessa instituição é reconhecida e admirada internacionalmente, devemos, em especial, à visão e à profecia do seu mais expressivo representante e sua capacidade de definir e implantar os princípios basilares da diplomacia brasileira – disse Collor.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) destacou que Rio Branco foi um devotado defensor da União das Américas. De acordo com a senadora, o Barão foi quem preparou o terreno para uma aproximação mais estreita com as repúblicas latino-americanas, além de ter acentuado a tradição de amizade e cooperação com os Estados Unidos. Ela disse que sua figura deve inspirar o Brasil a aproveitar o bom momento do país no exterior e repensar a política externa, assumindo papel de maior destaque na agenda mundial.
De acordo com João Capiberibe (PSB-AP), em tempos de descrédito nos homens públicos, homenagear Barão do Rio Branco em seu centenário de falecimento serve de “alento para mulheres e homens de bem do Brasil”. Para ele, mais do que ressaltar a importância de Rio Branco para o estado que tem a honra de representar, o mais importante era salientar sua capacidade de antecipação, por ter compreendido que o jovem país de sua época precisava resolver suas questões de fronteira ainda no século passado. O senador comentou que hoje esses conflitos dificilmente se resolveriam apenas pela diplomacia.
A sessão contou com a participação do embaixador Georges Lamaziére, diretor do Instituto Rio Branco, que representou o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota; do embaixador Gilberto Vergne Saboia, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag); e do ex-deputado Marcos Afonso, representante do governador do Acre, Tião Viana. Estiveram ainda presentes diplomatas brasileiros e estrangeiros alunos do Instituto Rio Branco. 05/03/2012 - 17h03 - Plenário