Alberto Brilhante e a ditadura militar
Alberto relata que naquela data de 26 de Setembro de 1969, tinha 22 anos, morava em Brasiléia-Acre, e ele como demais
alunos, tinham que entrar em forma para serem verificados, meias e
calças compridas, somente depois disso, entravam na escola.
Neste dia, o Diretor Jaci Pinto Cordeiro pediu que ele se dirigisse
para diretoria, porque estava namorando fardado; e ele disse com sua
linguagem rude, daquele tempo, que era a que conhecia:
- O senhor está mentindo!
Naquele momento, ele foi chamado para diretoria para receber um
documento de trancamento de matrícula, mais quando recebeu o documento,
já estavam na porta da diretoria, dois policiais, e ele saiu na marra,
passando pelos dois. Quando correu, ao invés de ir pela Rua da Encrenca,
que era o melhor acesso, mais muito movimentado, decidiu prosseguir
pela Rua da Goiaba; da Rua da Goiaba, pegou uma catraia e atravessou
para o outro lado do rio, da vila; ao invés de ir pra vila, para sua
casa, foi para baixa verde (colônia Baixa Verde), seguiu, cruzou e
apareceu na estrada velha, atravessou e chegou à estrada da Colônia
Fontenelle de Castro, então prosseguiu para Epitaciolândia; quando
chegou na encrenca, tinha uma mata muito densa, ele se escondeu ali;
então o único contato que havia, era um amigo da família, e este
disse-lhe que tinha um mandado de prisão para ele, mais não foi
executado, pois o encarregado era muito amigo de sua família.
Depois de uns três ou quatro dias, não havia comunicação com Rio Branco
(capital), então o único meio de comunicação era o correio e o
telegrafo, e este meio o Juiz tinha determinado para que não saísse
nenhuma informação do caso. Então quem entrou nesta história? O Padre
Pacifico, que mandou uma carta por um passageiro do ônibus para o Dom
Giocondo, conhecido na época como advogado dos estudantes, e durante
todo este tempo, ficou escondido na mata...e quando esta carta chegou no
Dom Giocondo, o mesmo entrou em contato com o secretário de justiça e o
secretário de educação.
Nesta primeira semana, a professora
Luiza, já tinha sido presa porque saiu em defesa de Alberto, achando que
não havia nenhum motivo da sua matricula ser cancelada...um certo dia
pela manhã, chegou um avião que trazia, Dom Giocondo, o Secretário de
Justiça e o de educação. O amigo, porta voz, foi até a mata procurar
Alberto a pedido deles...então encontraram-se no Hotel Moreira, em
Brasiléia; perguntaram pra ele, se queria continuar estudando lá,
naquela escola, ele disse que não, sendo a dita escola, a única para
estudar (Grupo Escolar Odilon Pratagi); Alberto então perguntou se podia
ir embora com eles, e eles disseram que sim; Ele estava com a roupa do
corpo e embarcou no avião para capital.
O pai de Alberto já
sabia do acontecido, e no dia seguinte, o professor também chamado
Alberto, Secretário de Educação, já o havia matriculado na Escola Normal
Lourenço Filho, (em Rio Branco), onde no mesmo mês, foi Presidente do
Grêmio Estudantil da escola; no outro ano foi, vice- presidente da Casa
do Estudante Acreano; todo este período, morando na casa do estudante
acreano e trabalhando como limpador de quintal e encerador de casa ´para
poder sobreviver e continuar estudando.
Neste período de
adaptação ficou sabendo do problema acontecido com a professora Luiza,
sua colega Luiza... em consequência deste acontecimento, em 1975,
Alberto fez um concurso para o Ministério do Trabalho, quase não foi
nomeado porque sua ficha estava suja na Policia Federal; eles haviam
denunciado o fato e naquela época, a Polícia o ouviu e achou que aquilo
não era nada relevante para impedir sua nomeação num concurso público, o
primeiro concurso público...
Alberto diz que tudo isso, não
cultivou raiva em seu coração, nem do diretor da escola, do professor
Jaci Pinto Cordeiro, porque acha que ele não estava agindo só, ele
estava agindo em nome da Ditadura Militar e influenciado pela Inspetora
de Ensino, na época, a professora Gezilda, que por sinal era afilhada de
sua mãe (Guiomar).
Esse trancamento de matricula, essa sua
expulsão para Rio Branco, só trouxe-lhe coisas boas, deixou de ser
carreiro de boi, pra ser um presidente de grêmio, pra ser um vice
presidente da Casa do Estudante, pra ser um funcionário federal, pra ser
um advogado, um professor, arrumar uma ótima família, e não tem nada
contra eles (os responsáveis).
Afirma ter sido exagero por
influência da Ditadura Militar, com ajuda de adeptos desse movimento.
Para ele, não existe a Ditadura nas escolas, mais existe o radicalismo,
diferente de ditadura...a ditadura era com força nas armas, o
radicalismo escolar é com força na expressão, na palavra, e de nada está
ajudando.
“Hoje seria uma ditadura branca, onde você é tudo,
mais você não tem ainda independência e nem tem direito de usar
livremente sua palavra em certas ocasiões, pois é tido como perseguidor,
ou outras coisas parecidas”, diz Alberto.
“A mensagem que deixo é
que não volte aquele tempo, porque prejudica, no caso da Luiza,
prejudicou porque ela foi presa, e eu não fui preso porque fugi; na
verdade não fui preso porque o mandado de execução não foi concretizado
por arquivamento momentâneo de um amigo”, ressalta.
Alberto
diz que tudo isso foi bom pra ele, não guardou magoa, a única coisa que
ele ainda não esqueceu, é que ele saiu do berço de sua família...para
viver num ambiente totalmente diferente, mais este ambiente diferente,
ajudou-o na sua formação moral, espiritual, social e familiar, porque
casou, construiu família...e sempre dizia assim:
- “Só volto aqui nessa terra, quando voltar formado!”.
Nesta época do Edilon Pratagi, fala não ter muito o que reclamar
dos professores, pois eles não tinham qualificação ideal para dar aulas,
e lembra que um dia foi perguntar à professora, qual a diferença entre
“rir e sorrir”, ela o colocou pra fora da sala de aula; naquela época o
professor tinha que estudar para dar aulas para Alberto, seu amigo Zé
Brandão (muito inteligente e companheiro), e outros; não dava ´para
encher suas mentes de linguiça, tinham que estudar. A professora
interpretou a pergunta sobre a diferença entre rir e sorrir, como uma
espécie de teste ao seu conhecimento, era o tempo onde o professor tinha
o primário, lecionava para o primário, terminava o segundo grau,
lecionava para o mesmo, então não tinha muito o que esperar daquela
classe, daquele povo não...
Alberto diz que apesar da boa
vontade daqueles educadores, faltava neles, qualificação, conteúdo, por
isso que às vezes acontecia essas coisas. Talvez sua matrícula tenha
sido trancada para que eles se livrassem de suas indagações, pois não é à
toa que o estudante, chegou à capital já sendo presidente do grêmio
estudantil, dentre os outros cargos já citados; pessoas como Alberto,
Luiza, e outros, naquela época, faziam medo, porque eles temiam perder o
lugar para estes estudantes...
Atualmente, segundo o
professor Alberto (vítima da ditadura), ainda existe isso, as vezes um
professor pode ser doutor em transmitir conhecimentos, mas estes
conhecimentos não chegam até os alunos, a metodologia deles, não é a
metodologia ideal para o aluno.
“Naquele tempo já era assim, e continua assim”, afirma o professor.
“Prometi a mim mesmo que voltaria ali, mais voltaria como uma pessoa formada”.
“Não quero dizer aqui que a profissão de carreiro de boi, limpar
casa, encerar casa, são profissões ruins não, são profissões relevantes,
que enobrece a moral do homem...só que não dá para viver nela...”,
afirma Alberto.
Alberto Brilhante de Oliveira, agradece à
sua amiga Luiza por todo o respeito e lealdade para com ele, e agradece
também ao seu colega e companheiro Zé Brandão, citado como um grande
sábio e intelectual em sua juventude educacional.
Eu Renata
Silva de Oliveira, jornalista, filha deste, escrevi os relatos de meu
pai, um homem que não aceita rodeios e inverdades. Meu objetivo foi
passar para todos um pouco deste grande homem, exatamente como ele
descreveu.
Este é o meu pai, Alberto Brilhante.
Renata Silva.